Neste mês de março, quando é celebrado o padroeiro do Ceará, o Governo do Estado compartilha uma série de reportagens com histórias de beneficiários(as) do Projeto São José
José Anairton Soares, de 64 anos, é dessas pessoas inquietas que em segundos elabora novas palavras para contar tudo o que já viu e fez no mundo. Homem de pés fincados na terra e coração devoto à sua comunidade, a Vila Cajazeiras, em Aracati, bem próximo à divisa entre o Ceará e o Rio Grande do Norte. “Aqui, tudo que é plantado dá resultado. É uma vila muito produtiva. Todo incentivo faz a diferença”, afirma José Anairton, que é presidente da Associação Comunitária de Cajazeiras e um dos 14 agricultores beneficiários do Projeto de Desenvolvimento Rural Sustentável, o Projeto São José (PSJ), do Governo do Ceará.
O Projeto, criado em 1995, atravessou governos e se firmou como uma política pública que representa esperança para milhares de agricultores que plantam e colhem os alimentos que chegam às mesas dos cearenses. A iniciativa carrega o simbolismo do padroeiro do Ceará, São José, celebrado no último 19 de março.
“O Projeto São José, que o nome vem do nosso protetor do inverno, São José, fez Cajazeiras renascer. Eu, por exemplo, estava há oito anos parado, vendendo tudo que tinha para conseguir me manter. O Projeto chegou e me deu um novo impulso. Foi tão bom que eu consegui comprar de volta o meu sítio. Estamos muito alegres e pedindo proteção para que possamos produzir nossas culturas. Hoje, graças a Deus, tenho de novo minhas terras, minha moto, meu carro e a minha bike. Sou pedaleiro”, comemora José, que nos últimos anos passou a competir regionalmente como ciclista.
Esse renascimento faz parte da implementação da fruticultura irrigada na comunidade, oportunizada na terceira fase do PSJ (2013 a 2019). A irrigação dá condições para que os agricultores possam colher frutas de boa qualidade durante o ano todo nas regiões com chuvas irregulares e mal distribuídas.
O propósito do PSJ, coordenado pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) desde 2007, é fortalecer a agricultura familiar no Ceará, aprimorando o acesso a mercados, com abordagens de resiliência climática e ampliando o acesso aos serviços de água e saneamento nas áreas rurais.
Nesse sentido, são contemplados agricultores que desenvolvem atividades agrícolas e não-agrícolas em comunidades rurais e famílias rurais sem acesso à água potável e esgotamento sanitário, sendo todos representados por suas associações comunitárias, associações de produtores, cooperativas ou outros tipos de organizações legalmente constituídas.
A quarta fase do Projeto, lançada em 2020, beneficiará cerca de 440 mil pessoas direta e indiretamente até 2025, com investimento total de R$ 750 milhões. A iniciativa é resultado de acordo firmado pelo Governo do Ceará com o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), tendo a implementação coordenada pela SDA. Além disso, em 2021, o Governo do Ceará anunciou o São José Jovem, para financiar, via edital, cerca de 300 projetos produtivos inovadores conduzidos por jovens rurais entre 18 e 29 anos.
Da Vila à cidade
A água que irriga boa parte dos sítios de Cajazeiras sai do poço localizado no quintal da casa de José Anairton. “Produzimos feijão, milho, jerimum, pimentão, melancia, banana, melão, mamão, batata doce. O melão, inclusive, é uma cultura muito boa para nós, porque é uma cultura rápida, que já dá retorno após 60 dias da plantação. Uma variedade boa para pequenos produtores e as empresas maiores, também responsáveis por empregos na comunidade”, pontua o agricultor.
O sorriso no rosto do agricultor aparece fácil quando ele fala da variedade de frutas espalhadas pelos hectares da comunidade. Segundo José, a colheita de fevereiro deste ano rendeu, apenas em seu sítio, aproximadamente 130 toneladas de melão. “Foi muito boa a última colheita, vários caminhões levando nossos melões. E olha que não é uma época boa, plantamos com risco quando está chovendo. Bonito mesmo vai ser depois de maio, precisa ver”, garante.
A produção significa alimento para as mais de 400 famílias da comunidade, mas também assegura abastecimento dos mercados em Fortaleza e cidades do Litoral Leste, no Ceará, além de Mossoró e Natal, no Rio Grande do Norte.
Anairton diz que atualmente gosta mais de atuar na gestão da comercialização, ficar entre idas e voltas a Aracati, uma das primeiras capitais do que agora é o estado do Ceará. A cidade também abrigou um dos primeiros portos cearenses para escoamento de produção. “Para abastecer a Capital, Fortaleza, mandamos tudo para Ceasa [Central de Abastecimento do Ceará]”, explica.
A Associação Comunitária de Cajazeiras agora luta para modernizar a fabricação de polpa de frutas, que atualmente é feita de forma artesanal pelas mulheres associadas. Elas chegam a produzir cerca de 500 quilos. São agricultoras como Jacinta Bezerra, 54. “Para as mulheres do sertão é uma atividade que nos beneficia. A gente tem a vontade e necessidade de ampliar o nosso negócio. Estamos lutando, com muita garra e esforço próprio para vencer as barreiras. Continuamos de pé”, destaca Jacinta.
Cansaço não existe no vocabulário dos homens e mulheres da comunidade. José Airton fala que sempre acreditou na força, mesmo nos momentos mais difíceis, afinal, teve em casa o exemplo de seus pais, Cosmo Augusto Soares, já falecido, e Francisca Costa Soares, de 93 anos. “Para nós, agricultores, nossos pais são motivo de orgulho e inspiração. Hoje, digo à minha filha, que estuda para ser técnica em Enfermagem: agricultor é melhor que muito doutor”, pondera.
De mãe para filho
O pai de Anairton gostava mais do comércio, enquanto Francisca, mais conhecida como Chiquinha, se dedicava à plantação. Chiquinha, natural de Jaguaruana, chegou ainda criança à Vila Cajazeiras. Na juventude, conheceu Cosmo. Os dois se casaram e, por meio da agricultura, criaram todos os dez filhos com muito esforço e perseverança sertaneja.
“Eu aprendi a plantar de tudo desde os dez anos de idade com meu pai. Até algodão plantei. Criei meus filhos assim, na roça. Eram outros tempos. A gente não tinha condição de dar estudos para todo mundo. São José ajudou muito nos momentos ruins. Por isso, aqui em casa, os nomes são Maria ou José”, conta Chiquinha, que completará 94 anos em abril.
Segundo a aposentada, a imagem do padroeiro do Ceará dormindo fica ao lado da cama todas as noites. “O Padre Reginaldo Manzotti falou dessa imagem. Um neto meu soube e trouxe para mim”, detalha. Para os católicos, a imagem representa conforto divino ao coração inquieto de José, o carpinteiro, ao não compreender os planos de Deus para a Sagrada Família: Jesus, Maria e José. O Papa Francisco, autoridade religiosa da Igreja Católica e atual Chefe do Estado do Vaticano, também confia suas inquietudes à imagem de São José dormindo. “Esse mês de março eu já fiz novena para São José aqui em casa. Estou com fé de acompanhar a procissão. Agradeço a Deus todos os dias estar viva e ver meus filhos”, sorri Chiquinha.
Chiquinha foi o motivo de José Anairton nunca ter desejado ficar longe de Cajazeiras, que também é sua família. “Meus irmãos foram embora, mas eu nunca quis ir; até saí por um tempo, logo voltei. A primeira coisa que eu fiz quando ganhei dinheiro foi a casa da minha mãe, bem ao lado da minha. A ela dou o meu primeiro bom dia e meu último boa noite”, diz o agricultor.