Na Secretaria da Proteção Social, as cozinhas dos abrigos para pessoas institucionalizadas são coordenadas por mulheres, que não só levam seu cuidado através dos alimentos, como criam um ambiente acolhedor para crianças e adolescentes abrigados pelo Estado. Josélia Palhano, a Tia Didi, é uma mulher negra que trabalha há três anos na Unidade de Acolhimento Tia Júlia Primeira Infância, que é coordenado pela SPS, e atende crianças de zero a seis anos.
Ela conta que ama cozinhar e cuidar das crianças da casa. “Eu cuido deles como se fossem meus filhos, alguns acompanho desde bebezinhos e fui criando um vínculo que está para além do trabalho na cozinha. Tenho um afeto por eles, que sai da cozinha e vai para a casa inteira”, conta Tia Didi.
Didi é uma mulher que sabe da importância da equidade de gênero e do recorte racial para que as mulheres tenham assegurados seus direitos de serem cuidadas e não só de cuidarem. “Como mulher, eu luto pelos direitos iguais, pelo meu espaço no mercado de trabalho. E ainda como mulher negra, essa luta é mais intensa, começou desde criança, para que eu pudesse ter meu reconhecimento, um emprego digno”, revela Didi, que todos os dias pega três ônibus para chegar até o Tia Júlia.
Ela mora do outro lado da cidade, sai de casa todos os dias às 5h da manhã, e passa por dois terminais para chegar ao trabalho. “Atualmente sou eu quem levo o pão de cada dia pra casa. Meu esposo está desempregado, e tenho orgulho de conseguir com meu trabalho pagar as contas, cuidar dos meus dois filhos e da minha casa”, frisa Didi, que ainda lembra: “Nós precisamos lembrar que também temos direito de sermos cuidadas, amadas, que somos tão importantes quanto os homens na construção desta sociedade”, reitera Tia Didi.
Ivonete Leite, 60. é cuidadora e trabalha há 11 anos em uma das Residências Inclusivas da SPS, casa de acolhimento para jovens com deficiência física e intelectual. “Aqui, a gente faz de tudo pelo bem estar deles. Às vezes chega o domingo, estou em casa sossegada e recebo uma ligação deles dizendo que aguaram minhas plantinhas. Isso deixa meu coração tão feliz, porque sei que esse carinho é o mais verdadeiro que existe, e que é construído no dia a dia, no nosso convívio na Residência Inclusiva”, conta Ivonete.
Mônica Gondim é coordenadora da Proteção Social Especial da SPS e militante pelos Direitos Humanos. À frente da coordenação, vê diversas mulheres cuidando de pessoas em alta situação de vulnerabilidade, seja pela condição de saúde, seja pelos dramas familiares. Mônica lembra que a premissa desta política é a empatia pela dor do outro, pelo risco de vulnerabilidade que este outro está passando, seja ele um bebê, um adulto ou um idoso.
“Nós, mulheres, que trabalhamos nesta política, seja como coordenadoras, cuidadoras, cozinheiras ou qualquer outra função que possamos exercer dentro destes espaços, conseguimos levar amor para quem cuidamos, indo sempre além da nossa área de atuação. Não é à toa, que em sua maioria, as profissionais atuantes nos espaços de acolhimento sejam mulheres. Aprendemos desde muito cedo a ter empatia e cuidar dos que estão ao nosso redor, e isto, começa inclusive dentro da nossa própria casa, por vezes cuidando dos irmãos mais novos ou de outros parentes próximos. Nesse ínterim, é que se encontra um dos nossos maiores desafios enquanto mulheres. Cuidamos e não nos ensinaram que também podemos e devemos receber cuidados”, pontua a coordenadora.
“Por tantas vezes nos esquecemos das nossas dores para poder curar as dores daqueles que estão próximos de nós, mas não podemos deixar de olhar também para nós mesmas, de ter o autocuidado e de saber que nosso dia não é só no 8 de março, mas em todos os outros dias do ano. Devemos lembrar que nós também merecemos e temos direito de sermos cuidadas, de termos nossa autonomia, nossos desejos e salários iguais”, reitera Mônica Gondim, que ainda recorda: “A nossa luta neste 8 de março é para que a equidade de gênero seja uma realidade para todas as mulheres, em todos os espaços e funções que ocuparem”.