A Secretaria da Educação (Seduc) promoveu, nesta quinta-feira (20), o “Seminário Memória, Verdade e Justiça: para que jamais se esqueça, para que nunca mais aconteça”. O encontro contou com a participação de cerca de 300 estudantes de 34 escolas da rede pública estadual situadas em Fortaleza. O objetivo da iniciativa foi dar início a um processo de discussão, que deve se estender para o contexto das unidades de ensino, a respeito do regime de exceção observado no período da ditadura militar no Brasil, que durou de 1964 a 1985. A ação é realizada em parceria com a Secretaria Estadual de Direitos Humanos; o Comitê da Memória, Verdade e Justiça do Ceará; e a Comissão de Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (Alece), que também sediou o evento.
A mesa de abertura do Seminário teve a presença do secretário executivo de Equidade, Direitos Humanos, Educação Complementar e Protagonismo Estudantil da Seduc, Helder Nogueira; da secretária dos Direitos Humanos do Ceará, Socorro França; do membro do Comitê pela Memória, Verdade e Justiça, Chico Malta; e dos deputados estaduais Renato Roseno e Missias Dias.
No contexto em que se completam 59 anos do golpe de Estado, destaca-se a escola como instituição de combate à desinformação e responsável pelo resgate desse período a fim de neutralizar ações totalitárias e erradicar práticas violentas. Helder Nogueira explica que a Seduc preza pela aprendizagem significativa, valorizando a convivência democrática no ambiente escolar.
“Queremos que este debate seja levado para toda a nossa rede, e que os jovens sejam agentes de difusão da memória e da verdade. Acreditamos que assim fortalecemos os nossos processos pedagógicos e as questões vinculadas aos direitos humanos. Propusemos, para o seminário de hoje, trazer estudantes que estão participando de olimpíadas de História, além de outros que também têm afinidade pelo tema. Consideramos importante, ainda, reforçar os conhecimentos do período da ditadura militar brasileira tendo em vista o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio)”, aponta o secretário executivo.
Socorro França enaltece a realização da iniciativa. “As novas gerações precisam entender o que se passou neste país. Que nunca a gente esqueça do que aconteceu em 1964, naqueles dias sombrios em que vidas foram tolhidas e ceifadas pela tortura. Que a gente sempre tenha memória e não perca a capacidade de se indignar diante das injustiças e desigualdades. Em boa hora, a Seduc traz este assunto à guisa, para que permaneça viva a memória e para que possamos delegar ao futuro um país mais leve, mais respeitoso e digno”, ressalta a secretária.
Esforço constante
Chico Malta defende ser necessário reivindicar por justiça e reparação. “Muita coisa já se conquistou, mas há muita coisa a ser feita. A juventude precisa assumir um compromisso com o futuro, com a liberdade, com a democracia, de forma inclusiva. Nossa luta não é parada na história e não representa uma coisa do passado. A violência contra o nosso povo muda de feição a cada época. A ditadura militar iniciada em 1964 cometeu uma série de arbitrariedades. A anistia não pode ser uma régua igual para torturados e torturadores. Na América do Sul, o Brasil foi o país onde a anistia foi mais complacente”, argumenta.
Missias Dias valoriza a participação das escolas na discussão, por terem papel primordial na formação da sociedade e na construção de um um país mais justo e igualitário. “Estamos aqui exercendo a democracia. Muitos não puderam, no passado, participar de um espaço de debate como este, simplesmente por não poderem estar reunidos. Vivenciamos 21 anos de um regime opressor, que deixou sequelas. Nenhum de nós pode aceitar o que aconteceu e temos que lutar, diariamente, para que nunca mais aconteça nada do tipo. E para isso, temos que estar juntos”, salienta.
Renato Roseno esclarece que o seminário nasceu de uma reunião entre a Comissão de Direitos Humanos, junto com o Comitê de Memória, Verdade e Justiça, e a Seduc. “Queremos trabalhar nas escolas a questão da justiça de transição (conjunto de medidas que permitem a superação de um regime autoritário para que se construa uma ordem democrática e garantidora de direitos humanos). Esta é a primeira atividade de outras que virão, antecipa o deputado.
Além das apresentações de abertura, o Seminário teve uma mesa temática com a participação da professora Adelaide Gonçalves, da Universidade Federal do Ceará (UFC); do membro do Comitê Memória, Verdade e Justiça, Valter Pinheiro; do professor André Vinícius, que leciona História na rede pública estadual; e do estudante Carlos Eduardo dos Santos, que cursa a 2ª série na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Walter de Sá Cavalcante. A mediação ficou por conta do deputado estadual Renato Roseno.