Em alusão ao Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo, celebrado no último dia 02, a Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp/CE) promoveu, nesta quarta-feira (12), uma palestra sobre o autismo para os policiais civis e militares, bombeiros militares, colaboradores comissionados, terceirizados e estagiários, que compõem o quadro funcional da Instituição.
A palestra intitulada “Autismo: entre o dito e o vivido” foi ministrada pela coordenadora do Grupo de Estudos Analíticos e Psicopedagógicos em Transtorno do Espectro do Autismo da Universidade Federal do Ceará (UFC), professora doutora Débora Leite, que contou a história da primeira pessoa diagnosticada com o transtorno do espectro autista (TEA) no mundo, explicou o conceito de pessoas típicas e atípicas, como identificar uma pessoa autista e quais os níveis de autismo.
“Nós vivemos numa sociedade em transformação e que precisa conhecer as novas demandas dessa sociedade atual. E os autistas fazem parte desta sociedade e precisam ter o seu mundo conhecido por todas as pessoas para que possam ser acolhidos, para que possam ser compreendidos e é de suma importância que todas as Instituições de segurança, de saúde, de educação tratem sobre o assunto. Na palestra de hoje eu quis trazer mais informações introdutórias sobre o assunto, como lidar, quais as principais características, quais são as incidências no mundo hoje… Enfim, nosso objetivo é colaborar e abrir portas para que a nossa fala chegue a quem precisa e em outras instituições”, pontuou Débora Leite.
Os direitos da pessoa diagnosticada com o transtorno do espectro autista (TEA), a importância do apoio às famílias e aos cuidadores, e dicas de como acolher uma pessoa autista em crise, também foram assuntos abordados pela palestrante.
Para a diretora de planejamento e gestão interna da Aesp, delegada Kamilly Campos, mais informação gera menos preconceito. “É muito importante difundir os conhecimentos sobre o autismo porque a gente só pode acolher as diferenças quando a gente tem conhecimento. Então, nós estamos muito felizes por ter essa oportunidade, ter esse momento de conhecimento, de ampliação do saber, para que nós, como servidores, possamos replicar e multiplicar esse conhecimento com os nossos discentes, quando passarem por aqui”, pontuou a delegada na abertura do evento.
Compartilhando experiências
Emocionada com a palestra, a major da Polícia Militar Pâmela Landim, que trabalha na Célula de Ensino Militar da Aesp, contou que o filho Pedro Heitor de 8 anos é autista e compartilhou um pouco da sua história. “O diagnóstico do meu filho veio entre os 2 ou 3 três anos de idade, que foi quando eu passei a observar, que eu o chamava e ele não olhava para mim, chamava por repetidas vezes e ele não tinha essa atenção, outros comportamentos, como por exemplo, a maneira como ele brincava com os brinquedos, que ele enfileirava muito, ele não brincava da maneira habitual, ele sempre acabava brincando de uma maneira muito particular e outra questão foi o atraso na fala”, pontuou.
A oficial ressalta que o diagnóstico não é o fim, é só o começo de uma linda jornada e fala orgulhosa do desenvolvimento do filho. “Meu filho, eu acho que ele supera todas as minhas expectativas. Hoje ele é aluno do Colégio do Corpo de Bombeiros Militar do Ceará, inclusive fez uma prova, fez um concurso para ingressar lá, passou, o que para mim é um motivo de muito orgulho, até porque eu também estudei lá, então eu sabia que não era fácil… Então, para mim, ele já é um motivo de orgulho, de superação, porque a gente sabe que ele tem as dificuldades, que são individuais, que são particulares, mas que mesmo assim ele dentro da sua capacidade conseguiu ser aprovado neste concurso”, revela Landim.
Ela fez questão de deixar uma mensagem para os pais que percebem algum sinal de autismo no filho e tem algum receio de buscar dignóstico. “O diagnóstico é fundamental para que você consiga dar o melhor suporte e apoio ao seu filho. Porque é a partir do diagnóstico que o autista é amparado por uma série de legislações que podem garantir tratamento,e até mesmo, a depender da sua condição financeira, de um auxílio, para estar lidando melhor com a condição do seu filho. O diagnóstico é só o início da sua jornada em prol do futuro do seu filho!”, destacou Pamela.
Inclusão e integração
A palestra foi viabilizada pela jovem Lieta Ramila Lima de Paiva, que é estagiária de pedagogia na Aesp e foi diagnosticada com autismo aos 19 anos. Ela conta como descobriu o TEA. “Desde pequena minha família percebia como eu tinha comportamentos atípicos, mas nunca buscaram saber quais as razões ou que eu teria. Por conta disso, cresci notando como eu era diferente das outras crianças e sem entender a razão disso. Já na faculdade, quando ingressei no curso de Pedagogia (UFC) em 2019, comecei a estudar sobre TEA por ter hiperfoco em educação inclusiva e foi aí que percebi que poderia ser autista. Algumas professoras me ajudaram muito nesse processo e graças ao auxílio que recebi de colegas que também são autistas consegui meu diagnóstico. Isso foi extremamente importante para que eu me entendesse melhor e para lidar com muitas situações do meu cotidiano que me afetam bastante, como sons altos, ruídos, luzes e texturas”, relata.
A universitária, que dedica boa parte dos seus estudos à educação inclusiva, com especial interesse no transtorno do espectro autista (TEA), ressalta a importância de debater essa temática nas instituições públicas e privadas. “Antigamente eu não entendia sobre autismo e as pessoas ao meu redor também, o que afetou demais minha infância e adolescência. Sabendo que eu posso levar ao menos um pouco de conhecimento sobre essa temática para diferentes ambientes, como a Aesp, não poderia deixar de sugerir uma palestra aqui. Eu acredito que falar sobre TEA é algo deve ser abordado em todas as instituições, principalmente as relacionadas à educação, saúde e segurança, porque aqueles que trabalham nessas áreas vão sempre encontrar pessoas de todas as idades que são autistas, com características e comportamentos que precisam ser entendidos e respeitados, sem receberem julgamentos simplesmente por serem eles mesmos”, finalizou Lieta.
Dia Mundial da Conscientização do Autismo
02 de abril é o Dia Mundial da Conscientização do Autismo, a data foi criada pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 2007, e tem p objetivo de levar informação à população para reduzir a discriminação e o preconceito contra as pessoas diagnosticadas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA).