O Ceará é pioneiro na implantação do Programa ACT como política pública e, além de Fortaleza, já implementou a metodologia inovadora em outras 23 cidades, sendo dez em áreas urbanas e 14 em áreas rurais. Os municípios com melhor implantação são Tianguá, Trairi, Sobral, Granja e Irauçuba. A coordenadora do programa Mais Infância Ceará e uma das facilitadoras das formações do ACT no Estado, Dagmar Soares, destaca que os 24 municípios foram selecionados pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, a partir de critérios como quantidade de famílias beneficiárias do Cartão Mais Infância; de creches e pré-escola; de Centros de Referência de Assistência Social e Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos para crianças de 0 a 6 anos.
Tereza Gordiano é pedagoga e coordenadora do ACT em Trairi. Ela explica que o município aderiu ao programa em abril de 2021 e conta com sete facilitadores na cidade de Trairi. “Nós executamos o programa em Trairi, através da parceria entre a Secretaria da Assistência Social e a Secretaria da Educação, que, juntas, dão o suporte necessário ao programa. Do início até o momento atual, temos, aproximadamente, 100 famílias que já participaram dos encontros e outras 50 famílias que estão participando atualmente do ACT”, destaca Tereza, lembrando que, no final do ano passado, Trairi recebeu o Selo Ouro por ter preenchido todos os requisitos propostos pelo programa.
“Temos como facilitadores profissionais que atuam na assistência, como também na educação, e essa transversalidade enriquece todo o processo. Percebemos que ainda há poucos homens que participam dos encontros, mas estamos trabalhando nisso, para que não sejam só as mães ou tias e cuidadoras em geral a entenderem a importância da educação sem violência”, frisa a pedagoga.
“O ACT tem uma metodologia tão simples, mas tão eficaz, que no segundo encontro, muitas das participantes já sentem confiança para falar sobre abusos que sofreram na infância e adolescência. Elas conseguem de alguma forma falar sobre traumas que tinham guardado por tanto tempo só com elas, e são desabafos que surgem espontaneamente, daí entendemos a grande necessidade que todas elas têm de serem ouvidas”, ressalta a coordenadora do programa na cidade de Trairi.
Carmen Lúcia é uma das facilitadoras do ACT em Trairi, e conta do valor social do programa. “Foi emocionante acompanhar de perto a transformação na vida de tantas mulheres. Ver o olhinho delas brilhando ao fazer um desabafo e não se sentirem julgadas naquela roda foi transformador. Muitas mães que naturalizaram a palmada ou o grito, contam que aprenderam a manter um diálogo tranquilo e saudável com seus filhos após os encontros. Elas nos contam que agora pensam antes de falar, contam até dez para não perderem a paciência, respiram fundo, e esperam o momento certo de falar para que não reproduzam violências com seus filhos”, lembra Carmen Lúcia.
Outro município que é referência na implantação do ACT é Sobral. O coordenador de programas e projetos da Secretaria dos Direitos Humanos e da Assistência Social do município, João Campos, destaca que, desde setembro de 2021, foram realizados encontros com 24 grupos na metodologia. “Tivemos neste período, a participação de um total de 163 famílias que foram certificadas ao final das formações”, reforça o supervisor.
“Percebemos que a metodologia alcança o público da assistência social, contribuindo para o fortalecimento da parentalidade positiva e prevenção da violência doméstica no contexto das famílias atendidas. Ainda observamos que a metodologia possibilitou reflexões profundas nas participantes, relacionadas ao modo de exercerem sua parentalidade. Muitas delas passaram a questionar o uso da violência física na educação das crianças, rompendo com o ciclo de violência intergeracional na criação dos seus filhos”, reitera João.
O supervisor avalia que, antes de participarem da formação do ACT, muitas mães e cuidadoras esperavam de suas crianças “comportamentos incompatíveis com a etapa de desenvolvimento delas”. Segundo ele, depois dos encontros, elas entenderam que as crianças estão em processo de aprendizado a respeito de como manejar as próprias emoções. “Elas refletiram que é muito importante desenvolver estratégias para manejar a sua própria raiva, de modo a não compensar suas insatisfações agindo de forma agressiva com a criança”, observa.
Municípios que implantaram o ACT
Na zona urbana: Fortaleza, Aquiraz, Quixadá, Crato, Sobral, Tianguá, Crateús, Eusébio, Camocim e Barbalha.
Na zona rural: Trairi, Granja, Viçosa do Ceará, Acaraú, Mauriti, Salitre, Itatira, Chaval, Jaguaruana, Juazeiro do Norte, Paramoti, Ararendá, Irauçuba e São Gonçalo do Amarante.