“Eu me sentia inútil, sem motivação, não conseguia lidar sozinho com esse transtorno. Tinha mudanças bruscas de humor, sendo necessária a atenção de profissionais especializados”. Foi assim que o assistente administrativo Maxwell Garcez, de 29 anos, definiu a caminhada em busca de tratamento em saúde mental.
Diagnosticado com transtorno afetivo bipolar (TAB), o jovem esteve internado no Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), vinculado à Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), durante dois meses, no fim de 2022. Ele passou também pela assistência ambulatorial e, hoje, é acompanhado pelo Hospital-dia – Lugar de Vida, unidade voltada para pessoas com transtornos mentais que apresentam quadro de saúde estável.
No HSM, a terceira maior causa de internação tem sido por casos graves de TAB, além de ser a terceira maior busca por atendimento na Emergência do equipamento. Esse distúrbio psiquiátrico é caracterizado pela alternância de episódios de depressão e euforia, podendo afetar crianças, jovens e adultos.
Em 2022, foram internados 2.179 pacientes com o transtorno no HSM. Na Emergência, foram recebidas 17.849 pessoas com TAB.
A doença afeta cerca de 1% a 2% da população mundial e provoca uma mudança drástica no comportamento e nas relações sociais do indivíduo, comprometendo sua funcionalidade. Para promover maior conscientização quanto à relevância da avaliação diagnóstica precoce e da submissão ao tratamento, o Dia Mundial do Transtorno Bipolar foi instituído em 30 de março pela Sociedade Internacional para Transtornos Bipolares. A data é a mesma do aniversário do pintor holandês Vincent Van Gogh. Após a morte do artista plástico, estudos indicaram que ele teria TAB.
Sinais e sintomas
O psiquiatra do HSM David Martins explica que uma pessoa diagnosticada com TAB alterna fases de depressão (alguns casos graves com ideações suicidas) com outras fases de momentos maníacos ou hipomaníacos. “Nessas situações de euforia, o paciente se apresenta com mais energia, pensamento acelerado, fazendo mais planos, com menor necessidade de sono, muito falante, gastando mais dinheiro, hipersexualizado e irritado. Isso pode durar dias, semanas e até meses”, detalha.
“Já na fase depressiva, há tristeza, pouca energia, falta de esperança, ficando totalmente o oposto do que estava. Em geral, aqueles com transtorno bipolar ficam muito mais tempo no polo depressivo do que no polo maníaco ou hipomaníaco. Imagine como se fosse um oceano de depressão com pequenas ilhas de euforia. Muitas vezes, as famílias procuram o atendimento psiquiátrico no momento depressivo, porém é necessário investigar se, ao longo da vida, foram registrados episódios de euforia”, alerta Martins.
Origem genética
Existem dois tipos de transtorno bipolar. No tipo 1, o paciente se demonstra mais exuberante quando está passando pela fase hipomaníaca, com delírios de grandeza. Já no tipo 2, apresenta uma euforia branda – que, muitas vezes, pode passar despercebida.
O psiquiatra aponta a genética como a principal causa do TAB. “Se você tem um pai e uma mãe bipolar, a chance de ter um filho bipolar é de 50%. Nós também percebemos o histórico de doenças mentais graves em familiares dos pacientes; às vezes, até pulam gerações, mas a carga genética é muito alta e, ao longo da vida, podem ocorrer fatores estressores que disparam a doença”, afirma.
Tratamento
Os casos graves são atendidos na Emergência do HSM e podem levar à internação. O tratamento é realizado no Ambulatório do Humor. Os pacientes são acompanhados por profissionais residentes junto aos preceptores, com assistências psicológicas e psiquiátricas, inclusive com prescrição de medicações.
“O transtorno bipolar é uma doença cíclica e, se não for tratada, pode trazer muitos problemas para a pessoa ao longo da vida. Dentre os pacientes psiquiátricos, os que apresentam transtorno bipolar têm uma alta taxa de possibilidade de suicídio. Então, sem uma terapia adequada, pode haver prejuízos no trabalho, nos relacionamentos amorosos, familiares e nos convívios sociais”, orienta Martins.
Ambulatório de Transtorno de Humor
Para ter acesso ao equipamento pela primeira vez, é necessário encaminhamento de uma unidade básica de saúde. Após triagem no Ambulatório Geral do HSM, se confirmado diagnóstico, os casos graves seguem para o Ambulatório de Transtorno de Humor.