Neste 8 de março, a Secretaria da Proteção Social (SPS) conta histórias de mulheres que atuam em diversas frentes da política de Assistência Social do Estado. Coordenadoras, assistentes sociais, cuidadoras, instrutoras, cozinheiras. Mulheres interligadas por uma linha invisível que costura suas histórias: a linha do cuidado com o outro. Cada uma delas cuida e se dedica integralmente aos que estão a sua volta, mas aprenderam, ao longo dos anos, que merecem ser cuidadas, e hoje, erguem a voz para exigir equidade de gênero, salários iguais aos dos colegas de profissão e tantos outros direitos que nunca lhes foram dados, mas sim, conquistados.

Formada em Educação Física, Conceição enfrentou preconceitos, seguiu a carreira que escolheu e ainda se destacou na sua área de atuação. Não sem esforços, não sem, por muitas vezes, um extremo cansaço. “O cuidado maior que a sociedade pode nos dar é o respeito aos nossos desejos de seguir a carreira que quisermos, de decidir sobre os nossos corpos e afetos. Não dá mais pra aceitar aquela história que diz que nós somos o sexo frágil. Eu acredito que já evoluímos muito nesse sentido, conseguimos mostrar nossa força, nossa capacidade”, conta Conceição, que já é avó e tem três filhos, que criou sozinha.

Para Jaqueline Pinheiro, doutoranda em Políticas Públicas pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e assistente social do Centro de Formação e Inclusão Socioprodutiva (Cefisp), neste 8 de março temos sim o que comemorar. Muitos são os avanços do legislativo que permitem às mulheres ultrapassarem o batente do privado em direção ao mundo público, mas também junto com esses avanços, aumentou a onda patriarcal, misógina e conservadora, que se esforça para não perder terreno nos espaços de poder.

“A equidade de gênero necessita ser um direito que cabe aos homens e mulheres, que juntos devem encontrar os caminhos para uma sociedade mais igual e justa. Os homens devem refletir sobre os novos papéis que podem desempenhar no mundo, desconstruindo junto às mulheres os papéis conservadores. O papel de cuidar, historicamente delegado às mulheres, e que era desvalorizado, precisa ser ressignificado no seu valor e na sua importância, para que a nossa sociedade possa ser transformada. E que este cuidado seja também destinado aos homens. Nós mulheres temos direito aos nossos desejos, aos nossos corpos, à vida pública, ao mercado de trabalho”, destaca Jaqueline Pinheiro.

Assim como Conceição, Socorro Parente, 60, atua na política da Proteção Social. Ela  coordena o Centro Comunitário do Farol, há 17 anos, e recebe todos os dias, crianças, jovens, adultos e idosos do Grande Vicente Pinzón, que encontraram neste espaço, um lugar de refúgio, lazer e também de capacitação profissional. “Quando cheguei aqui entrei de cabeça nesse trabalho e hoje posso dizer que temos o reconhecimento da comunidade do entorno”, lembra a coordenadora.

Foto Socorro Parente – Coordenadora do Centro comunitário do Farol (1).JPG

Enquanto Socorro conta um pouco da sua trajetória à frente do Centro, as crianças que estão na aula de balé correm para abraçá-la, um reconhecimento natural pelos cuidados que ela dedica há tantos anos naquele Centro. “Aqui, não me vejo só como coordenadora, me sinto mãe, avó, conselheira e tudo mais que eu puder ser. Minha dedicação integral é para que todos que recebemos neste espaço tenham mais oportunidades e possam sair daqui melhores do que quando chegaram”, destaca Socorro Parente.

Quando o assunto é cuidado, a coordenadora lembra que o retorno vem da comunidade, seja nos abraços ou no cuidado diário com o bem estar dela e dos outros funcionários. “Não é fácil ter que estar sempre na função de cuidar, ao tempo em que recebemos de volta, menos do que costumamos oferecer, porque também nos foi ensinado que isto era o normal, mas acredito que aos poucos, nós mulheres estamos aprendendo a romper com isto, e cada vez mais estamos aprendendo a exigir que também sejamos cuidadas e tenhamos direito ao descanso”, frisa Socorro Parente.

“Há que se pensar em políticas não só de reparação das violências às quais as mulheres são submetidas diariamente, mas também em políticas que nos vejam enquanto sujeitos de direitos, que nos propiciem autonomia através da diminuição das cargas triplas de trabalho, que muitas de nós têm que enfrentar, tanto no ambiente de trabalho como no próprio lar. Essa é uma mudança estrutural, que precisa ser pensada desde coisas muito pequenas até as grandes”, reforça Jaqueline Pinheiro.