Um país que entenda o foco na redução de desigualdades sociais como investimento, e não como gasto. Um Brasil que se reconstrua a partir de uma perspectiva de protagonismo no cenário internacional e que se coloque como voz ativa na busca pela paz mundial. Um Governo que não tenha medo de fazer as coisas necessárias para recolocar o Brasil no trilho da geração de emprego e renda e de crescimento econômico.
Foi em torno das ações necessárias para construir esse novo Brasil que o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, concedeu entrevista ao vivo nesta terça-feira, 21/3, para a TV 247. Na opinião do presidente, a receita para fazer a economia voltar a girar passa pelo Estado como indutor, além de incentivos para empresários, produtores e cooperativas encontrarem o ambiente propício para investimentos.
“Precisamos estabelecer uma política de financiamento, ora com os recursos públicos que temos, ora com as Parcerias Público-Privadas (PPP). Precisamos fazer muito crédito para pequenos e médios empreendedores e cooperativas”, disse.
Lula explicou que os primeiros cem dias de gestão têm sido para o resgate e aperfeiçoamento de uma série de políticas sociais essenciais para voltar a reduzir desigualdades e que, a partir dos cem dias, será o momento de anunciar novas ações.
“A partir dos 100 dias vamos anunciar tudo o que já foi feito e vamos, então, começar a mostrar outras coisas, sobretudo trabalhar para recuperar o poder aquisitivo também da classe média, não só tentando melhorar na questão do Imposto de Renda”, disse, numa referência à meta de isentar da declaração quem tiver ganhos de até R$ 5 mil mensais e à intenção de incluir oportunidades no sistema habitacional para quem ganha até R$ 9 mil. “Tenho um compromisso moral, ético, de fé, de fazer esse povo voltar a ter alegria neste país”.
INVESTIMENTO – Para o presidente, o caminho também passa pela gradativa redução da taxa de juros praticada no país e por uma perspectiva de encarar projetos dedicados a áreas sociais, como educação, saúde e redução da insegurança alimentar como investimentos.
“O que custa para o país uma pessoa sã, trabalhando normalmente, e o que que custa uma pessoa doente? Investimento para a pessoa ficar saudável é investimento, não é gasto! O investimento para fazer universidade é investimento, não é gasto. Há algo que possa trazer mais crescimento para um país do que dinheiro na educação?”, argumentou.
Lula cita como prioridades a retomada de obras de infraestrutura paradas, estimadas em quase 14 mil, a ênfase no Minha Casa, Minha Vida com compromisso de contratação de até dois milhões de unidades habitacionais até 2026 e o foco nas pessoas de baixa renda.
Também estão entre os compromissos da gestão o relançamento do Bolsa Família, que passou a garantir o mínimo de R$ 600 e, a partir deste mês, um adicional de R$ 150 para cada criança de zero a seis anos na composição familiar e o Mais Médicos, que terá 15 mil vagas até o fim de 2023 para garantir atenção básica em saúde aos pontos mais remotos do país. Nesta quarta, o presidente anuncia ainda a retomada do Programa de Aquisição de Alimentos, que faz uma ponte entre a agricultura familiar e programas sociais para a redução da insegurança alimentar.
RESPONSABILIDADE FISCAL – A ênfase no social, segundo o presidente, não significa perder o foco da responsabilidade fiscal. Segundo Lula, o novo marco fiscal a ser apresentado pelo Governo Federal vai traduzir a capacidade de conciliar investimentos, crescimento econômico e controle das contas públicas. O presidente afirmou que o novo marco será anunciado no retorno do presidente e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, da viagem à China, para garantir que haja a discussão necessária quando o plano for anunciado.
“É preciso discutir um pouco mais. Quero mostrar ao mundo que temos responsabilidade”, disse o presidente. Na opinião de Lula, é essencial que o ministro da Fazenda esteja no país quando houver o anúncio para que seja possível debater, responder, dar entrevistas e conversar com todos os atores envolvidos no tema.
PARCERIA COM A CHINA – Na viagem à China, Lula pretende reforçar o papel de protagonista de Brasil no tabuleiro internacional. Estreitar ainda mais as relações com o principal parceiro comercial do país e ampliar ações. “Essa visita para a China é extremamente importante, não só para garantir a relação boa que o Brasil tem com a China, mas para a gente ampliar a relação na questão cultural, na questão científica e tecnológica, na questão política”, disse.
Lula indicou mais uma vez que vai seguir na perspectiva de atuar nas conversas pelo fim da guerra entre Rússia e Ucrânia, como já fez em diálogos com líderes de Estados Unidos, Alemanha, França e com o próprio líder ucraniano. Para ele, a China é uma aliada importante nesse processo.
“Nós condenamos a invasão da integridade territorial da Ucrânia. Achamos que a Rússia não poderia ter feito isso, mas fez! A guerra está lá já faz um ano. Então, agora é preciso encontrar alguém que comece a falar em paz. Se houver espaço, vou conversar com o presidente Xi Jinping, porque a China é um país extremamente importante. O Brasil está à disposição para fazer qualquer esforço para garantir a paz”, comentou Lula.
O presidente elogiou a postura do líder chinês de se encontrar esta semana em Moscou com o líder russo, Vladimir Putin. “Já é uma grande novidade a China ter ido lá, porque é preciso que a gente pare todo mundo e fale: ‘vamos voltar a conversar’. Eu estou convencido de que o Brasil pode dar uma contribuição extraordinária para colocar fim à guerra e voltar a paz”.
Por fim, Lula afirmou que, na atual gestão, se sente mais maduro para conduzir o país. “Eu me sinto mais calejado, mais preparado. Sei que as coisas não são na hora que a gente quer. Quero viajar o mundo e recuperar a imagem do Brasil no exterior. Quero viajar o Brasil e fazer o povo acreditar que o Estado tem capacidade de induzir o crescimento”, concluiu o presidente.