O estudante Diego Miranda Santos, de 18 anos, obteve aprovação em 1º lugar no curso de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC) pelo sistema de cotas para escolas públicas. O jovem concluiu a educação básica na Escola de Ensino Médio em Tempo Integral (EEMTI) Estrela Torquato, localizada na comunidade de Capuan, no município de Caucaia, e prestou o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano de 2022. O resultado foi confirmado por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu).
Diego revela que intensificou a rotina de estudos ainda na época do Fundamental. A princípio, a ideia era cursar Informática, por incentivo do pai, que lhe dizia ser esta uma carreira promissora. Entretanto, o estudante entendeu que era necessário encontrar, por si, a própria aptidão. Foi então que percebeu identificação com as áreas de filosofia e sociologia, o que de certa forma serviu como norte para a profissão que iria buscar.
“Direito não foi amor à primeira vista, pois eu não acreditava que seria capaz de lidar com leis, decorar tantas normas, procedimentos e burocracias que o ofício exige. Mas, aos poucos, fui começando a gostar disso também”, conta.
Desafio
A entrada de Diego no Ensino Médio, em 2020, coincidiu com o início da pandemia. Naquele momento, enquanto a população do planeta tinha a vida afetada pela ascensão de um vírus desconhecido, e a sociedade como um todo buscava formas de reorganizar seu modo de funcionar, ser estudante e adolescente era ainda mais desafiador.
“Quando começou a pandemia, entrei em choque, pois perdemos o contato próximo com a escola. Não foi fácil, pois a rotina era muito corrida. Precisava ajudar a trazer renda para casa. Meu pai trabalhava como Uber, e estava tendo poucas demandas de corrida. A saída encontrada por mim foi fazer trabalho freelancer como revisor de texto, ganhando 10, 15 ou 20 reais por revisão feita, ao mesmo tempo em que conciliava os estudos para o Enem. Assim foi durante boa parte da pandemia. Sabia que, para chegar aonde queria, precisava me dedicar, me esforçar e agir no limite das minhas capacidades”, explica.
Diego lembra que, em 2021, já com mais clareza do que pretendia cursar no Ensino Superior, teve a primeira experiência com o Exame. “Uma prova difícil não tanto pela quantidade de questões e assuntos cobrados, mas pelo desafio psicológico envolvido, sabendo que se está fazendo uma prova que pode definir o curso da sua vida, além do preparo físico necessário para passar várias horas sentado”, observa.
Perseverança
Apesar de estar um pouco pessimista no começo, conta o estudante, o incentivo recebido de pessoas próximas foi importante para manter o foco no objetivo.
“Estudava não só nas aulas, mas nas paradas de ônibus, dentro dos ônibus, nos intervalos da escola, em casa. Isso foi desgastante. Ressalto o apoio que recebi de professores, com afeto e carinho, assim como das merendeiras da escola, que conversaram comigo sempre que eu tinha algum problema. Para chegar onde cheguei, é importante se respeitar, ser gentil consigo mesmo. Todos temos limitações, mas não são elas que vão nos fazer parar. Reconhecendo as próprias fraquezas e dando o nosso melhor, tendo a humildade de aceitar ajuda quando necessário, é o que nos faz chegar à vitória”, pontua Diego.
Maria do Carmo, coordenadora da EEMTI Estrela Torquato, trabalha na escola desde 2008 e acompanhou a trajetória de Diego na unidade de ensino. Na visão da educadora, uma soma de fatores contribuiu para que o jovem tenha alcançado o propósito desejado.
“Durante a pandemia, nossa escola procurou se diferenciar. Todo mundo se ajudou e aprendeu junto, a partir do momento em que começamos a entender a situação. O Diego sempre se destacou, pois se mostrava muito determinado. Ele costumava procurar a coordenação para imprimir conteúdos, tanto da escola como de outras fontes. Além disso, teve na família uma base, já que recebeu dos pais muito incentivo ao estudo. Acredito que nós, na escola, também fizemos a diferença na vida dele. Na 3ª série, trabalhamos um projeto voltado para o Enem e para o vestibular da Uece, com a realização de simulados semanalmente, treinando constantemente questões de provas, exercitando a questão do tempo”, considera.