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Tecnologia social trabalha a violência na educação dos filhos e fortalece a infância com afeto

Série de matérias mostra a ferramenta aplicada no Estado que vem mudando a forma como famílias vulneráveis lidam com a violência dentro de casa

“Em casa, meus pais não tinham costume de abraçar e demonstrar carinho. Então, eu naturalizei esse distanciamento na minha relação com o meu filho, João Ícaro. Participar dos encontros do Programa ACT me fez perceber isso, e aos poucos, fui mudando meu comportamento. Agora eu abraço e beijo com mais frequência e consigo demonstrar meu carinho e cuidado através dos momentos que temos juntos”, conta Tânia de Matos (30), que mora no Pirambu e participou dos encontros ACT – Como educar crianças em ambientes seguros, no Complexo Mais Infância do Cristo Redentor.

Tânia destaca que hoje vai para a cozinha e leva o filho para participar, além de fazer programações em casa que fortaleçam o laço entre os dois. “Se vou fazer biscoitos, aproveito e convido ele para cozinhar comigo ou faço uma pipoca e chamo ele pra vermos um filme juntos. Tem também a leitura em quadrinhos, que foi uma coisa que a facilitadora me incentivou a exercitar com meu filho, já que era uma coisa que ele já gostava”, observa.

Tânia faz parte de uma das 1.164 famílias contempladas com a ferramenta no Ceará. A Secretaria da Proteção Social (SPS) investiu no ACT para romper com o ciclo da violência que ultrapassa gerações e possibilitar uma educação positiva para as crianças cearenses em situação de vulnerabilidade. Tânia aprendeu a deixar a culpa de lado e buscou curar sua criança interior para cuidar e dar amor ao seu filho. “As facilitadoras nos ouviam muito. Falamos de coisas que nunca tínhamos compartilhado com ninguém e fizemos isto porque sentimos que aquele era um ambiente seguro e acolhedor. Hoje, posso dizer que o ACT foi um divisor de águas na relação com meu filho”, desabafa Tânia, que tantas vezes perdeu a paciência com João Ícaro, e acabava gritando ou tentando falar mais alto do que ele quando discutiam.

“Quando eu troquei o ‘cala a boca’ pelo ‘senta aqui, vamos conversar’, ‘o que você está sentindo?’, ‘por que você está gritando?’, tudo mudou. No dia a dia, nem sempre essa paciência é possível. Mas aprendi que tudo é um processo e essa construção é aos poucos. Estou trabalhando nisso, eu e o pai dele, para estabelecermos um diálogo em tom tranquilo, para que ele aprenda através do exemplo que tem em casa, a desenvolver relações respeitosas e não violentas ao longo da sua vida”, destaca.

Como educar sem violência

A coordenadora do programa Mais Infância Ceará e uma das facilitadoras do ACT no Estado, Dagmar Soares, destaca que o programa é uma tomada de consciência para muitos pais, mães e cuidadores, que acreditam que aquele modelo que aprenderam na infância é o único possível para educar seus filhos.

“Ao longo dos encontros, eles percebem que a palmada, o grito ou mesmo um olhar amedrontador são violências que prejudicam as crianças tanto física como emocionalmente. Atualmente, temos um número maior de mães, avós ou tias participando, mas os pais são muito bem vindos e devem participar dos encontros”, reitera Dagmar.

Ela lembra que durante as conversas, pais, mães e cuidadores contam sobre seu relacionamento na infância. “Este é um momento de muita emoção porque grande parte deles tiveram pais alcoólatras e agressivos ou negligentes. Muitos têm que fazer um esforço para tocar nestas antigas feridas e conseguirem quebrar esse ciclo de violência intergeracional para darem aos seus filhos uma educação positiva e sem violência. Neste momento, pensamos com eles em novos modelos de educação que atendam às necessidades de segurança e de confiança das crianças”, reitera Dagmar Soares.

Na Capital, foram realizados grupos de encontros do ACT em ABCs, centros comunitários e Complexos Mais Infância. “No final da formação, mães e cuidadores nos contam que querem repassar o que aprenderam para outros pais. É bonito ver esse movimento e as transformações que ele traz não só para cada família, individualmente, mas para a comunidade, como um todo”, destaca Dagmar.

Recomeços baseados no afeto

No outro lado da cidade, no ABC do Cajueiro Torto, no Ancuri, Milena Queiroz (25) viu sua relação com os dois filhos, Alisson Miguel (7) e Aila Maitê (2), mudar com os encontros. “Meu pai era alcoólatra e batia tanto na minha mãe quanto em mim. Fui ficando cada vez mais reservada, tinha medo de sofrer mais violências e, à medida que cresci, eu não tive espaço para desabafar essa parte da minha vida com ninguém e nem curar esses traumas. Logo me tornei mãe e estava criando o meu filho mais velho, o Alisson, distante de mim, não conseguia conversar com e como resposta ao meu comportamento, ele também foi se fechando. Aquilo me doía muito, mas eu não sabia como agir”, desabafa.

Milena lembra que, com os encontros, aprendeu a conversar e passou a valorizar os momentos de lazer com eles. “Hoje, quando o Alisson chega da escola, já pergunto como foi o dia dele, o que ele fez na escola. Agora ele me procura mais para conversar, sinto que ele confia mais em mim. Conseguimos desenvolver uma cumplicidade que não existia até então, e só de lembrar, me emociono, porque eles dois são a coisa mais preciosa que tenho nesse mundo”.

Para a pedagoga Jacqueline Lessa, técnica da Proteção Social Básica da SPS e facilitadora do Programa ACT no Ceará, é perceptível como, ao longo dos encontros, as mães vão se dando conta que não precisavam ter apanhado na infância, que aquela era uma educação negativa, e que elas podem e devem criar seus filhos sem violência.

“Nós, facilitadoras, vamos percebendo a transformação no semblante das mães quando elas entendem que aquela nova percepção e estratégia de educar, sem gritos, sem palmadas fortalece a identidade de seus filhos como pessoas potentes e cheias de autonomia e traz um benefício muito maior no progresso deles enquanto indivíduos. O ACT traz recomeços baseados no amor, no afeto e no reconhecimento da criança como o ser mais importante, em qualquer fase da vida. O ACT significa amor pelas nossas crianças e suas famílias”, complementa a facilitadora.




Fonte: Governo do Ceará

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