O recente tarifaço anunciado pelo ex-presidente americano Donald Trump, que visa impor uma taxa de 50% sobre produtos brasileiros, gerou uma série de reações fervorosas no Brasil, antecipando ondas de debates na arena política que se intensificarão até as eleições de 2026. As arestas políticas se acentuam, com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva direcionando críticas à oposição, enquanto esta se defende acusando a falta de diálogo do atual governo com os Estados Unidos.
A reação do governo brasileiro
Entre os principais personagens deste embate, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, surgem como figuras centrais. Após a imposição das tarifas, Tarcísio responsabilizou o governo federal pela falta de contrapartidas e começou uma troca de farpas com Haddad. Na quarta-feira, Tarcísio se reuniu com o ex-presidente Jair Bolsonaro e virou alvo de críticas do próprio Lula, que considerou a medida de Trump “deletéria” e indicou que tal atitude vem prejudicando a indústria paulista.
“O tarifaço é deletério, principalmente para aqueles estados com produções industriais de maior valor agregado”, disse Tarcísio, defendendo a necessidade de diálogo e a superação de questões ideológicas. Ele reafirmou a importância de priorizar os serviços e interesses do povo brasileiro em vez das rivalidades políticas.
Oposição responde ao tarifaço
A oposição não demorou a se manifestar. Após criticar fortemente as tarifas americanas, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema, adotou um discurso mais cauteloso, chamando a medida de “errada e injusta”. Em suas palavras, Zema pediu uma revisão da taxação, alertando que a decisão “penaliza todos os brasileiros”. As tentativas de Zema de modificar o tom provocaram tanto aplausos quanto críticas, uma dança política típica em tempos pré-eleitorais.
A crítica mais contundente, no entanto, veio de dentro do próprio bloco oposicionista, onde aliados de Bolsonaro como o deputado Eduardo Bolsonaro tentam se desvincular das consequências do tarifaço. Eles argumentam que as tarifas são resultados diretos das relações deterioradas entre Trump e o governo Lula, uma forma de retaliar as investigações judiciais que envolvem Bolsonaro.
Perspectivas para 2026
Com as eleições presidenciais de 2026 se aproximando, a taxação almejada por Trump é vista por muitos aliados de Lula como uma oportunidade. Para eles, a imposição da tarifa a produtos brasileiros poderia funcionar como um “presente” para a campanha de reeleição de Lula. Essa estratégia específica busca desmantelar o discurso “patriota” da direita, ao mesmo tempo em que alavanca a agenda da defesa da soberania nacional que o governo pretende apresentar à população.
O governo pretende utilizar o lema “o projeto de Lula é taxar os super ricos, o de Bolsonaro é taxar o Brasil.” A ministra de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, lançou essa ideia logo após o anúncio de Trump, buscando transformar a narrativa e intensificar as críticas à oposição.
Durante uma entrevista, Lula reiterou que o Brasil está disposto a negociar e ressaltou a importância do respeito às leis brasileiras. “É inaceitável que Trump interfira desta maneira e ainda se refira a uma ‘caça às bruxas’ no Brasil, quando a justiça está em curso-debate,” disse. Ele também instou que os representantes da antiga gestão não trabalhem contra os interesses do país, sinalizando que o governo atual permanece firme em sua posição sem se submeter à pressão externa.
Acusações internas e efeito dominó
Além das disputas externas, a família Bolsonaro e seus aliados enfrentam divisões internas, enquanto tentam desviar o foco da responsabilidade sobre as medidas comerciais. Apesar de estar inelegível, Bolsonaro continua a tentar se posicionar como uma alternativa para as próximas eleições, mas suas tentativas são frequentemente minadas por membros de seu próprio partido.
Por outro lado, líderes governistas estão cada vez mais frustrados com o que consideram um “jogo de empurra” em relação às responsabilidades políticas. O ministro Rui Costa e outros membros do governo têm enfatizado as contradições em se apoiar uma economia robusta enquanto se promove a degradação da economia nacional com decisões desfavoráveis aos produtos brasileiros.
À medida que as eleições se aproximam, aguarda-se um efeito dominó nas relações políticas não apenas entre governo e oposição, mas também dentro do próprio campo governista e oposicionista. A taxação de produtos brasileiros será um pano de fundo para os embates políticos, que prometem se intensificar com as inevitáveis campanhas eleitorais.
Enquanto o clima tenso se desenrola, cidadãos brasileiros assistem a um jogo político complexo que reflete um momento decisivo para a democracia no país.