A recente tarifa anunciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos brasileiros tem gerado um intenso debate nas redes sociais. Desde a quarta-feira, a discussão predominou em plataformas digitais, refletindo a resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e seus aliados ao novo cenário econômico. As redes sociais se tornaram um campo de batalha virtual onde as interações em apoio a Lula superaram significativamente as do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Desempenho nas redes sociais
Dados levantados pela Escola de Comunicação da Fundação Getulio Vargas (FGV Comunicação Rio) indicam que a discussão atingiu seu pico às 20h da quarta-feira, com impressionantes 159 mil postagens nas principais plataformas. O levantamento monitorou as interações entre as 17h de quarta e as 8h de quinta-feira, imediatamente após o anúncio de Trump.
No Instagram, onde cerca de metade das postagens políticas analisadas se relacionavam diretamente à tarifa protecionista e à alta do dólar, termos como “soberano” e “reciprocidade” se destacaram entre os mais utilizados. Frases como “Brasil soberano” foram alavancadas por Lula e pelo Partido dos Trabalhadores (PT), que reorganizaram suas estratégias digitais. O foco agora se concentrou em criticar Bolsonaro, que foi acusado de “taxar o Brasil”.
Comparativo de engajamento
Uma comparação feita pela FGV entre as postagens de Lula e Bolsonaro sobre o tema, antes da nota divulgada por Bolsonaro na noite de quinta-feira, revelou que o petista obteve um engajamento muito maior, somando 770 mil interações no Instagram. O texto compartilhado por Lula, que sinalizou possíveis medidas de retaliação caso a tarifa de 50% seja concretizada, ficou entre os cinco conteúdos mais impactantes na rede.
Em contraste, Jair Bolsonaro arrecadou apenas 240 mil interações, o que o colocou em oitavo lugar na lista de relevância. O ex-presidente optou por uma abordagem mais simbólica, publicando um versículo bíblico para criticar Lula, contextualizando a situação política através de uma citação: “Quando os justos governam, o povo se alegra. Mas quando os perversos estão no poder, o povo geme — Provérbios 29:2”.
O embate ideológico nas redes
Além das postagens dos líderes políticos, um vídeo crítico a Trump feito pelo economista e ex-BBB Gil do Vigor também se destacou entre os conteúdos de maior impacto. Outro vídeo provindo do prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), que criticou Lula, também se destacou nas discussões.
No X (anteriormente conhecido como Twitter), foram registradas mais de 1 milhão de postagens, representando quase 20% das discussões em português na plataforma durante o período de 15 horas analisado. A análise da FGV aponta um claro predomínio das críticas à taxa imposta e uma apologia à soberania nacional, ao mesmo tempo em que perfis da oposição tentaram articular um discurso coeso, culpando a política externa do Brasil pela ação de Trump.
Impacto no cenário político
Marco Ruediger, diretor da Escola de Comunicação da FGV, avaliou que o bolsonarismo saiu ferido do “primeiro round” nas redes sociais. Ele destacou que a situação serviu para unir a esquerda e uma parte significativa do centro em defesa da pauta nacional. A narrativa de “Brasil acima de tudo” de Bolsonaro foi questionada, ao expor a vulnerabilidade do político em relação a uma estratégia geopolítica que não controla.
Um levantamento realizado pela consultoria Arquimedes também corroborou a superioridade do discurso governista. Em mais de um milhão de publicações em português, 54,5% das menções vieram de perfis alinhados a Lula. A estratégia do governo de posicionar-se como defensor da soberania econômica do Brasil foi eficaz em ganhar terreno nas redes, contrastando com a defesa feita pela oposição, que se viu dividida.
Perspectivas futuras
Para o pesquisador Pedro Bruzzi, sócio da Arquimedes, o governo português está tentando transformar a crise internacional em um ativo político, posicionando-se como um defensor da soberania nacional. Segundo ele, a tentativa é ocupar o centro da narrativa, posicionando-se contra o protecionismo norte-americano.
O impacto do debate digital também foi visível na própria conta de Donald Trump, que trancou os comentários de suas publicações no Instagram após ter sua medida alvo de críticas dos brasileiros. A resposta nas redes sociais segue em evolução, e a maneira como o governo e a oposição gerenciam suas narrativas pode definir o futuro do debate político no Brasil.