O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez um forte pronunciamento neste domingo (6), na abertura da cúpula de líderes do Brics, realizada no Rio de Janeiro. Em suas declarações, Lula destacou que a morosidade na reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) está tornando o mundo “mais instável e perigoso”. Essa afirmação marca um novo capítulo nas discussões sobre a governança global e a necessidade de um sistema internacional mais justo e representativo.
A crítica à governança mundial
Durante sua fala, Lula não poupou críticas ao atual cenário geopolítico, enfatizando que a fragmentação do multilateralismo tem sido preocupante. “Presenciamos um colapso sem paralelo do multilateralismo”, afirmou. Para o presidente, o Brasil, que tem uma história de participação diplomática nas mais diversas instâncias, vê o Brics como um herdeiro do Movimento Não-Alinhado, o que representa uma alternativa à hegemonia ocidental. “Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque”, acrescentou Lula.
Em um mundo onde as alianças tradicionais estão sendo questionadas, Lula expressou suas expectativas em relação ao Brics, afirmando que os avanços nas áreas de comércio, clima e sistema global de saúde estão sob ameaça. Ele criticou também o papel da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), alegando que sua recente decisão de aumentar gastos militares contribui para uma nova corrida armamentista.
“É mais fácil destinar 5% do PIB para gastos militares do que alocar os 0,7% prometidos para Assistência Oficial ao Desenvolvimento”, criticou. Essa declaração evidencia a tensão entre prioridades governamentais e as necessidades sociais globais.
Conselho de Segurança da ONU: uma questão de credibilidade
Lula afirmou que o Conselho de Segurança da ONU está em um estado de “perda de credibilidade e paralisia”. Atualmente, o Conselho é composto por 15 membros, dos quais somente cinco são permanentes e detêm poder de veto. O Brasil, que já participou do conselho, pede há anos uma reforma que inclua novos membros permanentes. “Ultimamente, sequer é consultado antes do início de ações bélicas”, destacou Lula, enfatizando que o aumento da militarização é uma ameaça real para a paz mundial.
Ele também abordou a recente instrumentalização da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), afirmando que isso compromete a reputação do órgão, essencial para a promoção da paz. “O temor de uma catástrofe nuclear voltou ao cotidiano”, alertou Lula, refletindo sobre os riscos elevados na atualidade.
Conflitos e terrorismo
O presidente brasileiro também fez críticas contundentes ao terrorismo e à violência no Oriente Médio, especialmente em relação à ofensiva israelense na Faixa de Gaza. “Nada justifica as ações terroristas do Hamas, mas não podemos ignorar o genocídio praticado por Israel e a matança de civis inocentes”, destacou Lula, evidenciando a importância do diálogo e da mediação na busca por uma solução pacífica.
Além disso, Lula reiterou a posição do Brasil em relação a conflitos mais amplos, incluindo a situação da Ucrânia, sem no entanto responsabilizar diretamente a Rússia, integrante do Brics. “É urgente que as partes envolvidas na guerra na Ucrânia aprofundem o diálogo direto para um cessar-fogo”, disse, ao mencionar o Grupo de Amigos para a Paz, que busca mediação entre nações do Sul Global.
O futuro do Brics
O presidente Lula também usou a plataforma do Brics para enfatizar a necessidade de uma reformulação na governança internacional, que, segundo ele, não reflete a nova realidade multipolar do século XXI. “Cabe ao Brics contribuir para sua atualização”, afirmou. Ele defendeu que a inclusão de novos membros permanentes na ONU deveria ser considerada uma questão de justiça e uma condição para a sobrevivência do próprio organismo.
“Adiar esse processo torna o mundo mais instável e perigoso”, advertiu, ecoando um sentimento compartilhado por muitos países em desenvolvimento que buscam maior representação e voz nas decisões globais.
Brics: um grupo que representa o futuro
O Brics, que inclui países como África do Sul, China, Índia e Rússia, representa quase metade da população mundial e uma parte significativa da economia global. Como um grupo de nações em desenvolvimento, o Brics busca maior cooperação entre seus membros e um tratamento mais equitativo nos órgãos internacionais. Entretanto, Lula chamou atenção para o fato de que o grupo ainda precisa se fortalecer organizacionalmente, já que não possui um orçamento e um secretariado próprios.
O mundo observa atentamente as ações do Brics, que será presidido pela Índia em 2026, e como essa aliança pode influenciar o futuro da política internacional. Com as palavras de Lula, fica claro que a luta por uma governança global mais igualitária e eficaz continua a ser uma prioridade para o Brasil e seus parceiros no Brics.