Inscrições para a 18ª edição da OBMEP terminam nesta sexta-feira (17)
As inscrições para a 18ª Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) seguem abertas até esta sexta-feira (17). Promovido pelo Instituto de Matemática Pura e Aplicada (IMPA), o concurso reúne estudantes do 6º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio. Uma das unidades de ensino da rede pública cearense que vem se tornando tradicional na Olimpíada é a Escola Estadual de Educação Profissional (EEEP) Alan Pinho Tabosa, situada no município de Pentecoste. Lá, há um itinerário de estudos oferecido aos alunos que desejam se preparar para este e outros certames.
Em nível nacional, a OBMEP distribuirá 650 medalhas de ouro, 1.950 de prata e 5.850 de bronze aos participantes. Os alunos que conquistarem medalhas nacionais são convidados a participar do Programa de Iniciação Científica Jr. (PIC) como incentivo e promoção do desenvolvimento acadêmico. Instituições públicas municipais, estaduais, federais e privadas podem participar.
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Celeiro de aprendizagem
Na EEEP Alan Pinho Tabosa, as aulas de matemática são ministradas pelo professor Airton Moura, que participou da 1ª edição da OBMEP, em 2005, e foi medalhista de ouro naquela ocasião. Hoje, o educador serve de inspiração aos estudantes que buscam seguir o mesmo caminho, a exemplo de Gabriel Sales, que cursa a 2ª série do Ensino Médio na instituição.
Gabriel teve a primeira experiência com a Olimpíada quando fazia o 6º ano do Fundamental, ocasião em que se saiu mal, conforme conta. No entanto, resolveu persistir e continuar participando das edições seguintes, obtendo resultados melhores a cada oportunidade. Em 2022, já como aluno da EEEP de Pentecoste, conseguiu a almejada medalha de ouro na competição.
Um dos principais desafios da OBMEP, de acordo com Gabriel, é o controle do tempo. “Foi um desafio conseguir realizar a prova da segunda fase – que tem questões abertas – em apenas três horas. Eu não conseguia pensar muito rápido, nem sabia interligar conceitos. Às vezes, uma mesma questão cobra assuntos de álgebra e geometria, por exemplo, e eu não sabia como lidar com isso”, relembra.
Construção coletiva
A vitória foi possível a partir de uma rotina de estudos que envolve prática e compartilhamento de saberes entre alunos e professores, iniciativa proporcionada pela escola. “Nas aulas do itinerário, eu consegui treinar o quesito do tempo para resolver questões. Depois, havia a explicação do professor. Eu procurava observar o raciocínio dele e assim aprendi a juntar conceitos. Nas questões, precisamos explicar nossas respostas. Não ganhamos a pontuação simplesmente pelo resultado ter sido certo, mas pelo argumento fazer sentido”, esclarece.
Na visão de Gabriel, o melhor da OBMEP é a própria prova, que considera muito divertida. “Quando descobrimos a lógica da questão, ficamos alegres. É um enigma desvendado. Isso também me ajudou a raciocinar melhor nos estudos de outras matérias. E mesmo quando não somos medalhistas, ganhamos ótimas experiências. A OBMEP me abriu várias oportunidades. O PIC, por exemplo, me colocou em contato com outros professores e alunos vencedores. A OBMEP me ajudou a descobrir que eu adoro matemática, assim como outras áreas que a envolvem”, expõe.
A própria disciplina de história, exemplifica o jovem, exige que se interligue um fato a outro para entender o contexto dos acontecimentos. “Antes da OBMEP eu tinha aversão a história e atualmente é uma das minhas preferidas”, revela.
Parâmetros
Além do professor Airton, Gabriel encontrou referência em um outro estudante da EEEP Alan Pinho Tabosa, que estava dois anos à sua frente: José Lessa, que também participou do itinerário de estudos para a OBMEP e, em 2022, conseguiu medalha de ouro no concurso, quando cursava a 3ª série do Ensino Médio.
“Queria saber tanto quanto eles”, diz Gabriel. “Espero também servir de motivação para outras pessoas, para que conquistem os seus sonhos”, complementa.
José Lessa, por sua vez, concluiu a educação básica em 2022. Agora, no Ensino Superior, está fazendo Engenharia da Computação na Universidade Federal do Ceará (UFC), após também ter sido aprovado no vestibular da Universidade Estadual do Ceará (Uece) para Licenciatura em Matemática. O estudante destaca que a preparação para a OBMEP requer assiduidade e dedicação, entre outras estratégias. Estudar às vésperas da prova, mesmo para quem tem afinidade com a matemática, não funciona para este certame.
“Tenho um irmão que participou várias vezes da OBMEP, ganhou bolsa de estudos, e sempre me falou das oportunidades que essa olimpíada gerava. Com isso, desde cedo eu tive interesse em seguir na mesma direção. A OBMEP ocorre uma vez por ano, mas necessita de preparação ao longo de todo o ano. É preciso ter constância”, avalia José.
“Independentemente de qual olimpíada seja, é importante pesquisar como ela funciona, como é a estrutura, a abordagem das questões e as provas anteriores. Outra dica é a persistência: mesmo que não tenha ido bem em determinado ano, pode-se participar da edição seguinte, mantendo o esforço e a dedicação. O tempo investido no estudo vai resultar em retorno positivo. A olimpíada não é algo para se ficar preocupado ou ansioso por medalha. É para ser um aprendizado divertido”, defende o estudante.
Características
Um dos diferenciais do conteúdo apresentado pela OBMEP, em relação ao da base comum curricular, visto no ensino regular, é a aplicabilidade prática, conforme explica José.
“A matemática na escola tem muito a ver com cálculos e fórmulas. Já na OBMEP, envolve muita lógica e criatividade. Com isso, eu mudei minha forma de ver a matemática, que deixou de ser algo meramente decorativo, e tornou-se um assunto dinâmico, que envolve interpretação de texto. Não há um caminho só para resolver as questões. É necessário pensar bastante, tentar várias possibilidades, até encontrar uma solução. A prova tem questões tanto objetivas, como discursivas. Nelas, podemos escrever o que vier ao nosso pensamento. E ao contar uma história, conseguimos usar a matemática de forma inovadora. Esse foi um desafio, e ao mesmo tempo, um grande incentivo para mim”, aponta.
José ressalta que a escola sempre apoiou e incentivou a participação dos alunos em olimpíadas científicas. “Participei do curso preparatório para a OBMEP oferecido pela escola, ministrado pelo professor Airton, e pude aprender mais por meio da realização de questões e debate sobre as respostas. A gente compartilha as respostas e, por mais que o resultado muitas vezes seja o mesmo, as explicações são diferentes. Com isso, deixamos o nosso aprendizado mais leve, divertido e rápido, aumentando o nosso repertório de conhecimento”, demonstra.
Precursor
O professor Airton Moura, que atua na EEEP Alan Pinho Tabosa desde 2017, relata ter ficado contente ao perceber o entusiasmo dos alunos da instituição pela disciplina, sempre procurando-o para tirar dúvidas.
“Minha ideia é ajudar mais pessoas a se prepararem para a OBMEP, pois é uma forma de desenvolver muitas habilidades, como a interpretação textual, que serve para todas as disciplinas. Português e matemática andam juntas. Com isso, os alunos formam um bom raciocínio, aprendem a pensar mais rápido, organizam melhor as ideias e têm uma melhora geral no desempenho acadêmico”, cita o professor.
Sobre o itinerário de estudos visando à OBMEP, Airton explica que monta um roteiro a ser explorado, com a resolução de questões de provas anteriores.
“Normalmente, antes da primeira fase, levo 10 questões para serem feitas em 50 minutos. Para a segunda fase, apresento duas questões em cada aula. Eles tentam resolver sozinhos e, depois, observam como eu resolvo. Assim, podem identificar o que precisam melhorar”, descreve.
Exemplos
De acordo com o professor, os alunos que veem os colegas conseguindo menções honrosas e medalhas percebem que também são capazes e se desafiam a tentar. “E o interesse surge para olimpíadas em geral, não só para a de matemática. Isso faz com que pensem de forma mais ampla, evoluindo na aquisição de conhecimento e na habilidade para encontrar soluções de problemas do dia a dia com mais facilidade e rapidez”, afirma.
Airton menciona, ainda, a existência de grupos de estudantes que se ajudam entre si, compartilhando o que sabem uns com os outros – prática que se coaduna à filosofia da aprendizagem cooperativa, adotada pela EEEP Alan Pinho Tabosa.
“Quando um estudante explica para o outro, o aprendizado é mais rápido, porque o pensamento de um é mais parecido com o do outro. E aquele que explica também fixa melhor o conteúdo. Além de fortalecer a socialização, o pensamento no bem coletivo e o sentimento de identificação com a escola”, conclui o professor.