Quando foi a última vez que você praticou uma atividade física? Se você é como quem lhe escreve, há alguns anos, provavelmente precisará de algum tempo para responder essa simples pergunta. Algumas pausas entre afazeres diários se tornam uma necessidade, o cansaço pesa e, provavelmente, você vai descontar essa frustração em comida industrializada ao final do dia. Vencer essa batalha não é uma tarefa fácil e, no Dia Nacional de Combate ao Sedentarismo, os profissionais dos órgãos da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) dão um empurrãozinho.
O sedentarismo é definido pela falta de regularidade na prática de atividades físicas. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Por essa lógica, quem não dedica, semanalmente, 150 minutos ao próprio corpo, ou 30 minutos diários em cinco dias na semana, é sedentário. Uma zona de conforto em níveis. No nível 1, o indivíduo faz alguma caminhada, mas sem regularidade e nem intensidade. No nível 2 estão aqueles que carregaram sacolas, ou se dedicam às atividades domésticas.
Os níveis 3 e 4 de sedentarismo são os mais preocupantes. Nesse, a pessoa evita qualquer esforço físico e busca contorná-lo; já no nível 4, o indivíduo prefere ficar sentado, ou deitado, sem sequer lembrar da última vez em que fez algum exercício físico. “Sedentarismo não é uma doença, embora possa acarretar doenças que estão associadas à falta de atividades físicas, como: diabetes, doenças cardiovasculares, obesidade, atrofia muscular e pressão alta”, explica o supervisor do Núcleo de Educação Física (Nuef) da Academia Estadual de Segurança Pública do Ceará (Aesp), o inspetor da Polícia Civil do Estado do Ceará (PC-CE), Wladimir Sombra.
Para ilustrar o próprio pensamento, Wladimir Sombra compara o nosso próprio corpo a uma máquina. Sem uma alimentação adequada, o devido descanso e as atividades físicas, a “máquina” começa a apresentar sinais como cansaço intenso sem razão aparente, redução da força muscular, dores articulares, evolução da condição de sobrepeso para a obesidade e prejuízos à saúde mental.
Servir e Proteger
“O processo de sedentarismo é uma porta que te leva à obesidade. Um problema de saúde que, desde 1964, é reconhecido pela OMS como uma doença que desencadeia outras doenças”, alerta o 3º sargento do Comando de Policiamento de Rondas de Ações Intensivas e Ostensivas (CPRAIO) da Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) e profissional de Educação Física e Nutrição, Allan Christian. “Hoje, a literatura científica reconhece o tecido adiposo como parte do Sistema Endócrino, ou seja, ele possui a capacidade de secretar hormônios”, completa.
Hormônios como a leptina, usualmente liberado pelo estômago na corrente sanguínea, é responsável por regular a alimentação e o gasto de energia do corpo. “E, por conta desse tecido adiposo mais extenso, esse hormônio começa a ser liberado pelo próprio tecido adiposo. Uma combinação perigosa que acaba fazendo com que esse hormônio chegue em maior quantidade no nosso cérebro. Lá, a leptina desencadeará uma maior probabilidade de ingestão de produtos de alta densidade calórica, como os alimentos industrializados”, explica Allan Christian. “Uma verdadeira bola de neve que só aumentará o quadro de obesidade do indivíduo”, complementa.
E lembra da analogia do nosso corpo com uma máquina? É exatamente neste ponto em que ela para de funcionar como foi programada e apresenta um quadro de exaustão sem motivo aparente. Quando alguém sequer se olha no espelho, ela evita o contato social. “Se essa pessoa é um profissional da Segurança Pública, ela perde não só produtividade, como também autoestima. A nossa profissão exige que estejamos sempre alerta quanto aos cuidados com nossa saúde para que possamos desempenhar a nossa missão de servir e proteger”, fustiga o inspetor Wladimir Sombra.
“É de suma importância que o profissional de Segurança Pública tenha um bom condicionamento físico. Durante as atividades cotidianas, o nosso corpo é muito solicitado, como em situações em que algum indivíduo comete algum tipo de crime, ou ato infracional, e é preciso desempenhar uma estratégia de perseguição, ou acompanhamento tático. Sem um bom condicionamento físico, esse profissional de Segurança corre o risco de sofrer algum problema cardiovascular, como é o caso de um infarto do miocárdio”, exemplifica o profissional de Educação Física e Nutrição.
E a dica é…
“Nenhuma literatura científica fala em prazo, de 30 ou 60 dias, mas você pode se considerar fora do sedentarismo a partir do momento em que você desenvolve uma rotina de atividade física programada”, enfatiza Allan Christian. Para chegar lá, o recomendável é buscar uma equipe multidisciplinar, composta por um médico, um nutricionista e um profissional de Educação Física, para traçar um diagnóstico e estabelecer metas a serem acompanhadas periodicamente.
A dica, especialmente para pessoas acima de 60 anos, é o Projeto Saúde, Bombeiros e Sociedade (PSBS), do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Ceará (CBMCE). A ação tem como principal objetivo a execução de atividades físicas de baixo impacto voltadas ao bem-estar e a integração social, como também realizar campanhas socioeducativas e eventos cívicos e prestar esclarecimentos sobre prevenção de incêndios e de acidentes domésticos.
O programa, criado de forma voluntária em 2003, foi regulamentado pela Assembleia Legislativa do Estado do Ceará (ALCE) por meio de lei em 2019. Hoje, o PSBS beneficia mais de 27 mil pessoas em 411 núcleos distribuídos em 33 municípios cearenses, sendo de 231 na Capital, 92 na Região Metropolitana de Fortaleza e 88 interior do Estado, além de contar com transmissão no canal do YouTube do CBMCE.
“Hoje, somos mais de 900 bombeiros levando de graça, para diversos locais, como praças públicas, colégios, centros comunitários e locais onde os participantes se sintam à vontade, atividades físicas de baixo impacto, danças e atividades lúdicas. Também promovemos e organizamos passeios, fazendo com que todos os participantes saiam do sedentarismo e melhorem a saúde física e mental”, narra o comandante do Centro de Treinamento e Desenvolvimento Humano (CTDH) do CBMCE, tenente-coronel Naum Maurício.
Uma data para lembrar dos riscos
O Dia Nacional de Combate ao Sedentarismo é comemorado no dia 10 de março no Brasil. A data comemorativa serve de alerta para a conscientização da população sobre os riscos do sedentarismo para a saúde e de incentivo à prática regular de atividades físicas. Pessoas sedentárias apresentam um maior risco de desenvolver diversas doenças, incluindo doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade, hipertensão arterial, osteoporose, ansiedade e depressão.
O Brasil tem um alto índice de sedentarismo e é considerado um dos países mais sedentários da América Latina, de acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), de 2020. Segundo a OMS, pelo menos 47% dos brasileiros são considerados fisicamente inativos, ou seja, não praticam atividades físicas suficientes para manter a saúde. Esse índice coloca o Brasil atrás de países como Argentina, Uruguai e Chile em termos de atividade física e qualidade de vida.