Um recente anúncio do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, trouxe preocupações para os apicultores brasileiros, especialmente do Piauí. A nova tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, prevista para entrar em vigor em 1º de agosto, resultou no cancelamento da compra de 95 toneladas de mel orgânico produzido no Sul do estado. A Central de Cooperativas Apícolas do Semiárido Brasileiro (Casa Apis) anunciou o revés, que pode impactar não só as finanças da cooperativa, mas também o fornecimento de mel para o mercado americano.
O impacto da tarifa sobre o mel orgânico do Piauí
Localizada em Picos, a aproximadamente 314 km de Teresina, a Casa Apis enfrenta desafios logísticos para exportar seu mel. A carga precisa ser transportada por mais de 500 km até o Porto do Pecém, onde aguarda o embarque. Segundo o presidente da cooperativa, Sitônio Dantas, os compradores estão preocupados que o mel chegue aos EUA já sob a nova tarifa, o que tornaria a importação inviável.
“A notícia do cancelamento foi um golpe duro para nós. Temos uma relação de longa data com esses clientes, que até investem em nossos projetos sociais e ambientais”, lamenta Dantas. Além do esforço financeiro, a cooperativa enfrenta ainda o dilema de cinco contêineres que já estão prontos para embarcar, mas agora aguardam uma resolução.
Desafios enfrentados pelos pequenos produtores
A situação é ainda mais preocupante considerando que os Estados Unidos são o maior consumidor do mel brasileiro, absorvendo cerca de 80% da produção. O Piauí, embora não seja o maior produtor do Brasil, se destacou em 2024 como o principal estado exportador de mel. A cooperativa Casa Apis, que entregou cerca de mil toneladas de mel até o momento, esperava fechar o ano com vendas equivalentes, mas o “tarifaço” pode alterar drasticamente essas projeções.
“Nós nos especializamos na produção de mel orgânico, principalmente no Nordeste. O Brasil é o maior exportador de mel orgânico no mundo, e essa tarifa pode comprometer todo o nosso trabalho e o abastecimento dos consumidores americanos que já estão habituados ao nosso produto,” aponta Sitônio.
Tentativas de resolver a situação
Diante do difícil quadro, a Casa Apis busca alternativas para lidar com a situação e tentar concluir os embarques que estão prontos. Sitônio relata que uma representante da cooperativa nos EUA, que é brasileira e cuida dos negócios locais, está em negociação com os clientes para tentar reverter o cancelamento, aproveitando a relação de confiança que foi construída ao longo dos anos.
“Estamos tentando manter os embarques porque o custo do transporte é alto e não queremos que nosso esforço, que já foi iniciado, se perca. Esses contêineres representam um investimento significativo para nós,” afirma Dantas.
Perspectivas futuras para a produção de mel no Brasil
A situação atual levanta preocupações com o futuro da apicultura no Brasil, principalmente para os pequenos produtores e a agricultura familiar, que enfrentam mais dificuldades em momentos de crises como esta. A possibilidade de preços mais altos para os consumidores americanos preocupa, já que a tarifa também pode impactar a disponibilidade de mel no mercado.
Os apicultores brasileiros, especialmente os da região Nordeste, continuam a lutar por reconhecimento e por justiça comercial em um mercado que é crucial não apenas para sua sobrevivência econômica, mas também para a preservação de práticas agrícolas sustentáveis. Com a expectativa de que a situação se normalize, a Casa Apis e seus associados esperam poder retomar seus embarques e continuar contribuindo para o abastecimento do mercado de mel nos Estados Unidos.
O futuro da produção de mel orgânico no Brasil pode depender não só de medidas administrativas, mas também de uma maior solidariedade entre os consumidores e pequenos produtores, que estão na linha de frente das consequências dessas mudanças tarifárias.