O governador do Piauí, Rafael Fonteles (PT-PI), lançou na sexta-feira (26) o Plano de Expansão da Rede de Média e Alta Complexidade do Estado, com o objetivo de promover a regionalização da saúde. Com um investimento de R$ 602,5 milhões, a expansão abrange todas as macrorregiões de saúde e inclui a implantação de novos serviços e a instalação de novas unidades de saúde, seguindo a hierarquização em rede.
O Plano, que será executado pela Secretaria Estadual de Saúde (SESAPI), prevê a descentralização da rede estadual de saúde e tem como objetivo principal diminuir a fila de regulação de procedimentos e a transferência de pacientes do interior para a capital.
Teresina hoje recebe pacientes de todo o estado que recorrem aos hospitais públicos na cidade.
A falta de estrutura e pessoal nos hospitais estaduais e regionais ainda gera a necessidade de transferir acidentados para realização de cirurgias em Teresina, sem falar da média e alta complexidade, praticamente indisponível nos hospitais do interior.
Descentralização da Rede de Saúde
De acordo com o governador, 16 cidades serão envolvidas nesse processo de descentralização, distribuídas nas quatro macrorregiões do Piauí. “É uma descentralização da rede de média e alta complexidades para os quatro polos principais e outros 12 polos intermediários. Então, serão 16 cidades envolvidas nessa descentralização”, explicou Fonteles.
Estrutura nas Macrorregiões do Estado
O secretário de Saúde do Piauí, Antônio Luiz Santos, afirmou que toda a estrutura que está sendo montada vai ser aplicada nas quatro macrorregiões do estado.
Litoral
Parnaíba, Piripiri e Esperantina.
Meio-Norte
eresina, Campo Maior, Castelo do Piauí e Água Branca.
Semiárido
Picos, Oeiras e Valença.
Sul
Floriano, Uruçuí, Corrente, Bom Jesus e São Raimundo Nonato.
Organizações Sociais
Nos planos de Rafael Fonteles em melhorar a prestação de serviços de Saúde pelo governo está a entrega da gestão de hospitais para Organizações Sociais de Saúde (OSs).
Em termos práticos, uma entidade privada sem fins lucrativos, estabelecida por iniciativa de indivíduos, é delegada pelo Poder Público para prestar um serviço público de caráter social. Essa delegação é formalizada por meio de um contrato de gestão com o governo.
O governo repassa para a OSs os valores acordados no contrato de gestão com o governo. Ela fica então responsável pela administração do aparelho de saúde pública, um hospital regional, por exemplo. A OSs pode contratar pessoal especializado – sem concurso, comprar insumos – sem licitação, e toda a gestão se torna responsabilidade das OSs.
Como exemplo do Piauí, o próprio governador Rafael Fonteles citou, durante o lançamento do Plano, o Hospital São Marcos, que recebe recursos públicos oriundos do SUS, do Estado e da Prefeitura para atender pacientes de média e alta complexidade. A gestão é privada, sem fins lucrativos. E dá certo desde 1953. Mas com muita dificuldade.
Citado por Fonteles, São Marcos clamava por recursos do Governo
Não são raras as vezes que o Hospital São Marcos reclama de dificuldades em receber recursos até do Governo do Estado para manter o atendimento a pacientes oncológicos. Há pouco mais de um ano atrás, em Abril de 2022, o São Marcos ameaça parar suas atividades por falta de recursos.
“Temos um déficit em torno de R$2,2 milhões por mês e a Associação não tem condições de bancar. Temos que entender que o SUS é tripartite (União, Estado e Município) e nós só recebemos a verba do Governo Federal. Pedimos a complementação tanto por parte da prefeitura quanto por parte do Estado”
Joaquim Almeida, diretor do Hospital São Marcos, abril de 2022
![Rafael Fonteles quer avaliar gestão de OSs em hospitais do Piauí por um ano.](https://sp-ao.shortpixel.ai/client/to_webp,q_glossy,ret_img,w_1024,h_538/https://dopovo.com.br/wp-content/uploads/2023/05/rafael-fonteles-expansao-saude-simepi-1024x538.jpg)
Antonio Luiz Santos, secretário de Estado da Saúde, falou sobre o prazo em que as Organizações Sociais (OSs), deverão entrar em vigor no estado.
Um edital público deverá ser publicado nesta segunda-feira (29), permitindo que as Organizações Sociais apresentem suas propostas de valor para gestão dos hospitais. A SESAPI vai avaliar as planilhas de custos apresentadas pelas OSs, avaliar as propostas e definir qual se adapta melhor a cada hospital.
“Se tudo correr bem, a gestão das OSs em Parnaíba, Campo Maior e Mocambinho poderá começar já no mês de julho”, concluiu o secretário de Saúde.
Testes do modelo
Além dos três hospitais citados por Antonio Luiz, o governador Rafael Fonteles disse que a nova maternidade pública, em Teresina, deverá ser administrada por uma OSs. Fonteles estimou um período de avaliação de resultados para o modelo de gestão terceirizado.
“A nova maternidade, o Hospital do Mocambinho, o Hospital de Campo Maior e o Hospital de Parnaíba. Vamos acompanhar a evolução desses serviços. Após um ano, faremos uma avaliação dos resultados”, afirmou.
![Plano do Governo do Estado é entregar a gestão da nova maternidade de Teresina para uma Organização Social (OSs)](https://sp-ao.shortpixel.ai/client/to_webp,q_glossy,ret_img,w_1024,h_538/https://dopovo.com.br/wp-content/uploads/2023/05/nova-maternidade-sera-gerida-por-os-1024x538.jpg)
Plano de terceirizar gestão da Saúde enfrenta resistência
Médicos protestaram em frente ao Palácio de Karnak na última quinta-feira (25) contra a transferência da gestão dos hospitais estaduais para as OSs. O vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí (SIMEPI) falou sobre o assunto à imprensa. “O Piauí é um estado muito pobre, onde mais de 80% da população depende do SUS. Nós não podemos permitir que o Governo do Estado queira entregar a saúde pública nas mãos da iniciativa privada. Quem mais vai padecer é o povo.”, disse Samuel Rêgo.
Além da terceirização da gestão, o SIMEPI avalia que o modelo fragiliza a contratação de profissionais por concurso público.
“Nós queremos também que o ingresso no serviço público seja feito mediante concurso público, como determina a lei, para evitar o ‘Quem Indica’ e favorecimento político de alguns”
Samuel Rêgo, SIMEPI
Nesta segunda-feira(29), os médicos farão uma nova assembleia no Sindicato para debater o assunto.
Rafael Fonteles mantém plano: “faremos essa experiência”
Mesmo diante da resistência do Sindicado do Médicos, o governador Rafael Fonteles afirmou durante o lançamento que vai executar o plano de expansão que envolve a contratação de OSs. “Não sou detentor da verdade, e se o serviço não melhorar conforme o esperado, estaremos dispostos a recuar. No entanto, faremos essa experiência que está sendo realizada em todo o Brasil”, afirmou Fonteles.
Cronograma de três anos
Além do investimento de mais de meio bilhão de reais, o Plano de Expansão da Saúde requer tempo.
O governador explicou que todo esse processo de mudança será feito em um período de três anos, com valores e prazos definidos. Fonteles ainda falou do desafio de vencer a burocracia para execução do plano.
“Claro que isso não vai ser feito de uma vez, será um cronograma de três anos, tudo com valor e prazo definidos. Cabe a nós garantirmos os recursos e vencer a burocracia para execução desse plano”
Rafael Fonteles